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O TERMINAR DA AVENTURA BRASILEIRA...

....chegou por fim com o ultimo dia do mês de Junho...Ar de inverno, botas e casacos, sempre muito ocupada, S Paulo despertou, as usual, coberta pelo manto de vidro fosco com que sempre se resguarda, haja sol ou chuva, granizo ou nevoeiro..

Acordei porque o barulho que o meu coração fazia era ensurdecedor não obstante ser a única capaz de o escutar...Aprendi a estar na Cidade, uma das maiores que Gaia permite no dorso...Desordenada, tão feia tantas vezes, tão bonita de vez em quando, surpreendente sempre! E se por um lado contente porque uma nova vida se anunciava, infeliz, por deixar trás uma existência assente em emocões , descobertas, em felicidade e infelicidade, amizades, ganhos e perdas, gostos e cheiros, intensidade e imensidade ou simplesmente, um decorrer inssonso, tudo permitido pelos cinco anos, que celeres, a maior parte, concorreram para me agradar, rejuvenescer, envelhecer, completar, despedaçar, beliscar, envolver ou enjoar-me...

So ao fim dessa tarde o Francisco voltou para mim enfim...O meu Benjamim dormia longe e espraiava-se em abracos apertados de amizade e ternura...Havia-o soltado por amor, por compreensão, pelo desgosto profundo que se manifestou em solucos molhados contra o meu colo...mãmã eu não quero ir, não quero deixar os meus amigos, a escola... A minha alma quebrou-se de novo...Quantas vezes a conseguimos colar antes que fique para sempre aos pedacinhos? O Pedro mais lucido, talvez merce dos seus quase 13 anos, menos preso porque nunca se encontrou completo na cidade-da-chuva-miudinha, havia ja comecado a largar amarras, a desatar os nos...

Jantamos sushi os quatro em intimidade absoluta e mais tarde, os motoristas levaram-nos em direcão ao aeroporto de Guarulhos;  embarcamos numa viagem tranquila, confortavel que atrevessou a noite e o dia, tendo sido a tarde veraneante a receber-nos em Barcelona...

1..

Quanto custa uma panela de pressão? Sei lá, já a comprei há cinco anos!! Como se diz patins em inglês? Roller qualquer coisa? Levamos os lençóis todos? No way Jose, a máquina primitiva deu cabo da maior parte..E os candeeiros? Os de pé ofereci-os às amigas, vou deixar os do quarto principal...O sofá da sala foi forrado e o aparador levado para arranjar...Depois de oito empregadas as mossas na madeira feitas pela passagem descuidada do aspirador tornaram-se por demais evidentes...Será que o Sr Ambrósio, marceneiro do Embú das Artes, o entrega a tempo?
A lista para o seguro cresce...Amanha a GInter começa a desmontar a casa! Quinta mudo-me para o hotel na rua do colégio porque as aulas vão continuar até dia 30...Felizmente! No meio disto o Francisco leva alegremente, aparecendo de forma esporádica entre os acampamentos, festinhas, noitadas em casa dos amigos.. Nove anos e esta semana, vi-o finalmente, sexta à noite, trazendo a reboque mais três camaradas para dormir... Deixá-lo, quero mesmo é que ele seja feliz e não pense muito, vai perder os amigos de toda a vida... O Luís entretanto resolveu fazer a cirurgia recomendada e tirar a vesícula, exactamente nesse dia.. Corri entre o hospital, as pizzas, as camas... Felizmente que a Eliana, a empregada, me deu uma mãozinha a gerir a confusão...E o Pedro, querido e cavalheiro como sempre, vai-me fazendo carinhos e sorrindo no meio da própria ansiedade... Adoro este filho que se tem tornado um companheiro de tantas horas..

Barcelona!

E pronto! Assim que escrevo esta palavra só consigo ver o Fred e a amiga, de boca aberta, num palco, ambos completamente desfasados em relação ao outro, porém, magníficos.. Isto tendo em consideração a minha pobre cultura musical.. (Basta dizer que não acho nada de especial ao David Fonseca e perco horas a ouvir João Pedro Pais a quem aprecio a voz e as letras..)
De volta a Barcelona, de onde saí sexta feira passada, ainda com o tempo trocado, cheia de calor, cansada de ver tantas casas e ouvir tantas explicações, de falar das aptidões escolares dos meus meninos de oiro que ficaram na nossa de Setúbal a serem mimados pelos tios e avós à espera do regresso conjunto a S. Paulo..
Barcelona é linda. Gótica, cheia de Zafon em todas as esquinas, de avenidas largas e de transito ligeiro aquando comparada à mega metrópole que habito.. Praias amarelas e azuis para baixo, montanhas recortadas para cima.. Nunca há que enganar.. De um lado o mar, do outro as terras altas.. Perfeito, sem duvida! Seria aliás perfeito se num começo de tarde solarenga, sentada nas ramblas chiques vendo passar as pessoas e esperando meu sushi do almoço, não me tivesse cansado dos rostos e desviado a atenção para os pés! Os pés! Os pés e calçados por sapatos perfeitamente feios e pirosos.. Primeiro pensei que fosse impressão minha, depois má vontade e por fim acreditei que sim, que era mesmo mau gosto e falta de opções! Habituada que estou às mil da industria do sector no Brasil, havia-me esquecido que ali não abundam nos shoppings, nas ruas, as inúmeras sapatarias com design e qualidade impecável que fazem com que as malas de viagem das europeias e americanas em passagem, mal se possam fechar de tantos pares com cores, feitios e fins diversos..

O cair da ficha!

Esta tarde sentei-me no sofá que já foi creme clarinho, comprido e confortável, companheiro de muitas horas de preguiça, de tristeza, de alegria, de entretenimento, palco de tantos meetings no femenino, ninho de intimidade para o chá na chaleira verde do dragão que comprei num dia inspiração no Colombo, casinha para as meninas, plateia de meninos atentos à TV, companheiro de noites de insónia e muito mais, sentindo o barulho de algo que caía ao chão: era a ficha, como se diz deste lado do mundo! Sim, caiu-me a ficha! Amanha viajo para para Barcelona (com paragem muito breve em Portugal), em busca de abrigo e educação (leia-se, casa e escola, claro!)..Quando voltar, terei apenas mais um mês para me despedir de Sampa, por quem, com o tempo consegui tratar por você..Sampa desdobra-se, há muito que deixei a sensação de estranheza, não noto o sotaque.. Obrigada.

Email from China...

Domingo de manha em Sampa com café mas sem torradas.. Abri a caixa e encontrei um email do Luís, from far far away...

"Oi gorredxa (apesar da fluência em inglês, um muito razoável francês, espanhol em franco progresso, a few words em alemão, o accent brasileiro do meu marido fica aquém das expectativas..)
 Hoje de manhã (ontem à noite aí, tenho mais 11 horas do que tu), acordaste-me, mas não faz mal, pois também estou com muitas saudades..(esta parte ficou-lhe impecavelmente bem, qualquer mal entendido se desvanece nesta altura..) Agora devia-me vingar e acordar-te (falei cedo de mais, parece!), pois são 6 da manhã de domingo (pfff.. podia à vontade porque sou perita em voltar-me para o lado e adormecer de novo..tsss, tss)..
 No primeiro dia fomos a uma zona da cidade com comércio de coisas mais típicas chinesas. Jade, colares de pérolas, chás, seda, pauzinhos para comer, muitas comidas estranhas de take-away, enfim estamos na China.(Oba! Jade? Pérolas? Colares? Pulseiras? Chá? Adoro!) Depois à noite fomos jantar a um restaurante chinês todo modernaço. Comida muito picante, com sabores estranhos, mas boa.
 Hoje de manhã fui dar uma volta pela rua mais comercial da cidade. É uma longa avenida (NandJing Road), com dezenas de lojas luxuosas com as marcas todas boas de roupa, malas, jóias, relógios, etc. Enfim óptimo para gastar dinheiro, mas os preços são iguais aos da Europa e portanto, mais caro do que nos USA. Não vale a pena. (Decepção! USA? Vamos?)
 No principio da rua existe um shopping tipo 25 de Março, com tudo o que é imitação, mas mais asseado e com mais espaço e o triplo das lojas, portanto não se anda abafado. (Folgo em saber!) Vende-se muito malas de viagem porque o pessoal leva tanto que depois tem de comprar a "embalagem"! Há Ipads, Iphones 4 e até 5 (???), por 50 Euros. Já pensei comprar 2 Ipads destes para os miúdos. Dá para ver uns filmes, musica, ligarem-se à Internet sem fios em casa e outros, tal e qual o original..Têm jogos e um site próprio para os descarregar, apesar de os chinocas garantirem que se pode fazer downloads da Apple também. Não sei é qual o tempo de vida de uma coisa destas!!.
Jogos copiados para DS, PSP (existe um modelo disto falso), etc, são às centenas. E as cópias dos DVDs são todas em Blue-Ray, inclusive as séries de TV.
A cidade é muito agradável e muito europeia/americana. Árvores, imensos edifícios modernos ou antigos recuperados, ruas limpas e arrumadas, toda a gente a andar a pé, descontraída, pouca policia...Claro que existem zonas mais feias ou antigas e degradadas, mas no geral parece ter-se melhor qualidade de vida que em S. Paulo. By night a parte do downtown é espectacular, com montes de pessoas nas ruas, as fachadas dos edifícios iluminadas com anúncios.. Parece as imagens de Tóquio ou Times Square...
O trânsito está para o lado do caótico, pois passa primeiro nos cruzamentos sem semáforo quem tem mais tomates, ou, menos amor ao carro, apesar de ainda não ter visto ninguém a bater. Montes de motinhas, muitas delas eléctricas (!!), e bicicletas, que andam por onde querem inclusive passeios. E os taxistas então, são um espectáculo a guiar. Coitados dos nossos lisboetas, são uns aprendizes ao pé destes. E sempre com a mão na buzina. (Umas das coisas boas daqui é que os táxis são muito baratos, mas tens que sair do hotel sempre com o cartão com endereço, para onde vais e onde regressas senão corres o risco de não regressares por ninguém te perceber, porque inglês é mentira!)
Não te posso mandar nada pelo Facebook, pois está proibido na China e como tal não tenho acesso, tudo menos redes sociais...
O hotel é muito bom. Basta dizer que tem backed beans ao pequeno almoço e umas fatias de bacon fantásticas. Yyyiiaahhhuuuu trigliceridos !!!
Bom acho que já chega primeiras impressões da China. Agora vou jantar (18.00h), porque aqui come-se a partir desta hora. Hoje já chegou praticamente o resto do grupo todo e amanhã às 08.00h começa o trabalho a sério.
Beijinhos e abraços para todos e para ti um beijão (e o resto, por razões óbvias, foi censurado!)
Your husband"
LR

2..

O Luís partiu para uma reunião na distante China.. Eu fiquei, com pena de não participar na aventura, mas a segurança e bem estar dos meus filhos fala sempre mais alto e, Xangai, situa-se a demasiados kms de distancia para eu poder ir em paz..Isto sem falar do aniversário do benjamim, que, na próxima semana, completa nove anos de idade! Por isso, em vez de sonhar com o distante, comecei a planear para executar a ultima festa em Vera Cruz!  Bolo de aniversário (feito em parceria com a fiel Bimby), cupcakes de baunilha, e pizza encomendada expressamente à Dominó (a preferida da turminha). Em agenda, para o principio de Junho, depois do acampamento promovido pelo Colégio, a noite de pijama, tradição iniciada há dois anos e que comporta (novamente), pizza, cinema no telão do Condomínio e pipoca, brigadeiro (off course) seguido de noitada, todos os doze acampados na sala, de pijama, sacos cama, colchões aqui e ali, muitos chiuuus que são horas de dormir e depois então, de café da manha com panquecas.. Um casamento de ciganos ao pé parece uma brincadeirinha! Ufa!

Contagem decrescente 1...

Hoje abri a porta da minha sapateira e pus-me a contar os pares.. Descobri que, primeira vez em dias da minha vida, tinha uns quantos.. Inclusive três deles bem altos, cinco certamente muito senhoris! Mas o que continua a imperar, Graças, são os práticos, melissas, rasteirinhas e botas "descoladas".. E a grande dúvida nasceu.. Que fazer? Manda-los pelo contentor que pode demorar cerca de dois meses (na melhor das hipoteses), ou encafua-los numa mala muito cheia certamente, com destino final a Barcelona? E a propósito desta fantástica cidade que se vai tornar lar pelos próximos anos, este mês irei fazer a primeira pacifica incursão... Confesso-me algo ansiosa, condição que me faz comer mais do que o habitual.. Eu que já me tinha forçado a alguma contenção no sector, mastigo com redobrado vigor e não digo não a uns quantos chocolates ou quitutes.. Isto sem falar sequer dos almoços e jantares, que por via da separação iminente, começam a acontecer com uma frequência maior! (Por essa razão recomecei a aparecer na academia dos Champs de forma mais regular e para além das aulas de alongamento, voltei ao Yoga..).

25 de Abril.. Sempre?

Aparentemente não, numa das revistas que o Luís trouxe desta ida à Europa, um dos pilares da Revolução de Abril afirmava qualquer coisa do género.." Se eu soubesse que Portugal chegaria a este ponto, não teria feito a Revolução!" Não é ipsis verbis porque a minha memoria é selectiva, escolhe sempre o sentido ao invés das palavras..
Há quarenta e seis anos atrás eu baptizava-me na Igreja Matriz da Cidade da Praia e dez depois embarcava rumo ao Continente e a uma vida totalmente diferente daquela que eu levava no clima tropical das Ilhas, no meio das mornas e coladeiras, sem a real noção do que me rodeava até então! Portugal era como as águas da Arrábida, gelado! Habituada à maciez e doçura dos cabo-verdianos, estranhei os modos dos setubalenses de língua enrolada, fossem eles pequeninos ou grandes..
No inicio não gostei dos cravos, tinha saudades das pessoas, da comida, do cheiro, do mar que batia mesmo em frente à porta de casa..Com o tempo compreendi o significado das palavras Liberdade, Democracia.. Habituei-me a elas, sem dificuldade.. Acho que as perdemos, algures, no meio do consumismo desenfreado e dos prazeres fáceis..
Aqui não é feriado, as crianças na escola e quem trabalha, em funções..

O passeio

Chegamos a Boituva ao fim da tarde, o sol quase a pôr-se nos campos que rodeavam o aeroporto e o hotel onde pernoitamos.. .
Tempo limpo, noite amena.. Partimos em direcção à cidade pequenina que se estendia infinita numa rua só e jantamos, na pizarria simples, pizzas com bordas cheias de catupiry, que o Francisco adora mas que os outros até dispensam.. Eu comi, tinha fome...O preço? Um absurdo, jamais haviamos pago algo assim, onze pessoas apenas sessenta e um reais.. Um pouco mais de cem kms de distância da capital...Na véspera, na Veridiana, em S. Paulo (ok, ambiente diferente mas sem vinho, sem sobremesas), cada um de nós, pelo mesmo petisco, desembolsou cerca de setenta...
Como a Cris (que viaja com frequência a Sampa em negocios), deixou o Alex e as crianças em Terras Lusas, acollhemo-la no nosso quarto, tendo nós as duas partilhado a cama de casal e o Pedro e o Francisco dormido em colchões... A Cris é pequenina e quando se encaixa para dormir é uma santa, fica sossegada num cantinho, cabelos compridos espalhados pela almofada e respiração serena.. Eu, habituada que estou aos meus espaçosos todos, achei que estava sózinha!
Durante a noite choveu cats and dogs, dinossauros, cavalos e vacas, o vento uivou desesperadamente e eu fiquei quase convencida de que o passeio de balão estava irremediavelmente comprometido. A alvorada, cerca das 5.45 horas, desembrulhou para todos um céu azul e tranquilo, um sol nascente sorridente e um vento adormecido! Que sorte!
No breakfast... No espaço em frente à pista onde o aviãozinho de serviço despeja de meia em meia hora paraquedistas em busca de emoções mais fortes, um cesto de verga e um pano colorido muito comprido, jaziam por sobre o prado verde, entre o vai e vem das cinco crianças que participariam na subida.. Lentamente, com os homens de apoio a segurar firmente a embarcação, o balão arco-iris encheu-se, completo de promessas de uma viagem diferente.. E foi!
Foi diferente porque:

•  tão suave e sem sobressaltos, levantou voo como num sonho
•  lá de cima a paisagem, desenrolou-se tal e qual um tapete
•  o vento pára (nao obstante estarmos a sermos levados a 55 kms /hora)
•  o tempo dilui-se no prazer inesperado da suspensão da barquinha
•  as casas abertas, em relevo alto, permitem um espreitar diferente
•  os passaros brancos que voam por sobre os arbusto em que as arvores altas se transformam, parecem borboletas alvas, mensageiros da paz..

E aterramos, de forma ainda mais tranquila do que subimos, sem a adrenalina que julguei necessária.. O balão foi morrendo aos poucos, puxado pelos meninos que por fim, cansados, se estenderam por sobre os tons fortes depois de terem brincado e corrido.. Antes, brindamos com champanhe o baptismo do ar, tendo eu permitido ao Pedro e ao Francisco o degustar da bebida em calice de pé alto que vinha envolto em guardanapo branco elegante, guardado num cesto com fechos de cabedal... Africa Minha..(pormenor, o mais velho fez caretas e ao mais novo, arranquei o copo a custo!)
Foi giro! Mas não extraordinário!

Sobe sobe balão sobe..

Do desejo à realidade... O Luís em viagem, num primeiro reconhecimento ao terreno profissional e o fim de semana, disponível...E eu quis muito um passeio de balão!
Com a ajuda do bom amigo João Contreiras, que de imediato, sem hesitações, alinhou na aventura, partiremos disparados ao céu em grupo cerrado de portugas, cinco adultos, cinco crianças...
Amanha, cerca das 6 horas, em Boituva, cidade a poucos mais de 100 kms de S. Paulo onde pernoitaremos para excluir quaisquer atrasos...

Saúde

A saúde é um tema delicado.. Graças a Deus, eu tenho saúde.. E digo graças porque é bom ter saúde e porque eu tenho uma falta de paciência imensa para tomar conta da saúde.. Ou pelo menos da minha! Tomo conta da do Pedro e do Francisco, tentando não descurar as consultas dos dentistas e ortos, da dermatologista  (têm ambos peles atópicas), dos otorrinos e dos pediatras...
A palavra expatriado coloca instantaneamente cifrãozinhos nas pupilas dos bons doutores que, em Terras de Vera Cruz, cuidam de nós! Expatriados significa, regra fixa, capacidade financeira acima da média em virtude dos fabulosos seguros médicos, ou, numa versão menos simpática, babacas  a explorar até que nos doa o osso da cobiça! E não se trata, em absoluto, de má língua (confirmado pelas minhas amiguinhas brasucas)...Intervenções cirúrgicas custam, na pratica, pelo menos mais um terço..Em fins de Setembro o Francisco sofreu uma, tinha as cornetas do nariz!!!!(sim eu sei, dá vontade de rir), enormes, fazendo com que a respiração se processasse de forma errada, que ressonasse e ainda, comesse de boca aberta! No Albert Einstein! (E aqui abro um parêntesis grande, porque esta Instituição merece sem duvida! Trata-se do melhor Hospital da América Latina, dos melhores do Continente, luxuoso, full equipped, nada falta: passando pelas instalações, lojas e restaurantes, até ao pessoal e tecnologia, absolutamente de ponta).. Entrada e saída no mesmo dia. Daria, na nossa Santa Terrinha, para extirpar pelo menos, cornetas a três meninos!! A médica fez questão de tratar a galinha dos ovos de ouro pessoalmente, falar com o Francis, explicar-lhe os procedimentos e consequencias, não esconder.. Seis meses depois, pronto para a consulta de rotina,ciente que seria a ultima,  a própria, aquela que fez ressaltar a necessidade da ligação, dos laços entre os intervenientes, manda-o para o afilhado que é muito bom.. Acredito, mas que sabe o menino da madrinha que nunca passou os olhos pelo menino da mamã?
No Brasil os médicos são excelentes na técnica, na qualidade e quantidade, no atendimento aos pacientes.. Infelizmente tornaram-se uns mercadores sem grandes escrúpulos.. Onde fica o Juramento de Hipócrates nisto tudo?

Tristeza

Sinto-me triste.. Leio em todos os jornais, revistas, emails, oiço em todos os telefonemas e conversas..Portugal está mal! Muito mal... Chegamos ao fim do poço! Não há mais fundo, nem escavando com o desespero de um condenado!
Eu estou aqui, no pujante Brasil, país em explosão, potencia em potencia.. A minha família, os meus amigos, o meu país, encurralados, sem terem por onde fugir!

Restaurant Week

Começou em S. Paulo.. É verdadeiramente um acontecimento a não perder, já que, todos os restaurantes com fama (e sem ela), aderem ao movimento, criando para a ocasião menus muito próprios e absolutamente deliciosos, com a vantagem de serem..muito mais baratos!
Dondoca que é dondoca não se deixa adormecer no ponto e assim, nesta altura, multiplicam-se os almoços, utilizando-se mil e uma desculpas ou mesmo nenhuma! Declarou-se no grupo habitual a "abertura oficial" e fomos estrear um (nem todas, diga-se de passagem), completamente fa-bu-lo-so! O Vicolo Nostro, ristorant  bar conhecido pela deliciosa comida, maravilhosa decoração (parece uma villa italiana) e incrivel serviço! Adorei!
Sampa, Terra da Garoa (chuva-molha-parvos), é uma verdadeira caverna de Aladin (também dos quarenta ladrões, se tivermos em conta os preços absurdos que se pratica no que já é considerada o topo dos topos das cidades mais caras do Planeta...E os portugas, convencidos que o Brasil é baratinho!!) no que concerne ao sector em causa... Reza a lenda que, se um cidadão se dispor a almoçar e jantar fora todos os dias, numa vida razoavelmente longa, jamais conseguirá conhecer todos os restaurantes, botecos, bistrôs e outros que por aqui se acotovelam, mais de dez mil...
Cidade escondida por detrás de portas e grades, cada uma destas guarda ciosa, ambientes imensos ou mais recatados, decorados com um gosto e cuidado nunca antes encontrados em outros espaços urbanos... Todos os dias se abrem e fecham estabelecimentos, se renova a arte...A gastronomia, excelente, reparte-se entre o trivial brasileiro e a mistura requintada dos chefs, sem esquecer regionalismos, gostos e religiões... A qualquer hora do dia se pode comer...Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas... A cidade que não dorme é S. Paulo, não NYC, como canta o Sinatra...ou será que é a Liza Menelli?

Quiero...

Antes de vir viver para S. Paulo a Joana passou dois anos na Cidade do México. Na sala, na tela de fundo branco, letras a negro, por cima de um dos sofás confortáveis, pode-se ler o poema favorito do Bernardo aprendido então na escola:
Quiero y no quiero querer. A quien no quierendo quiero. He querido sin querer y estoy sin querer queriendo. Se porque te quiero quieres que te quieras mas. Te quiero mas y mas.! Que mas quieres? Quieres mas? Te quiero!
A Alexandra levou um destes quadros para a Grécia e hoje pedi à Joana que fizesse um para mim, desde já prometida uma parede em Barcelona...
Pergunto-me... Qual será o sentimento que levou um menino de sete anos a pedir a eternização de um poema de amor tão forte?
A Ana e o Paulo decidiram casar.. Já estão juntos há anos...Devagarinho o Paulo foi-se mudando para o sexto andar, cumprimentando o meu pai que encontrava no hall à entrada do elevador, conquistando a D. Eulália e a Tia Mané.. A todos nós..O Pedro e o Francisco estão contentes, há já algum tempo que perguntavam "quando?" Em Outubro!
Alex-quase-cunhada!

Escondidinho de carne seca..

..é um clássico em Vera Cruz e se não estou em erro, com origem em Minas Gerais... A simples menção do Estado em questão leva o pessoal em geral, a lamber os beiços, soltar humms quase eróticos e a lançarem-se em descrições pantagruelicas de refeições inesqueciveis....
Eu pessoalmente adoro e nunca perco a oportunidade de degustar o escondinho de mandioca ou macaxeira...Às vezes acabo a refeição a ronronar satisfeita, outras nem por isso! Mas como tenho a sorte de ter uma amiga que o faz de modo absolutamente divino, como amo (expressão completamente cá da terra), um bom meeting feminino - com a habitual troca de galhardetes (estás tão gira.. adoro o seu vestido..que sapatos tão bacanas), de receitas (coloca sempre leite de coco?), queixas (me roubaram de novo no posto da gasolina, 20 reais a mais, mas dessa vez eu estava atenta!) e risos, pedi à Cláudia que fizesse uma boa travessa como desculpa, organizei-me e ontem, nove de nós, entre brasileiras e portuguesas paulistas, sentaram-se à mesa de vidro, pernas cruzadas, tinto do Alentejo e comemos até à exaustão, estado que antecede aquele de culpa absoluta! Para rematar um bolo de merengue que não envergonharia o da Bambu de Setúbal... Estava tudo óptimo e ainda ganhei uma data de presentes (a etiqueta local manda nestas solenes ocasiões).. Um lindo ramo de flores de caule elegante, uma galinha pomposa para tapar os bolos de fubá, uma vela cheirosa antistress, um saquinho de guloseimas and so one, and so one...Luky me!
Inconscientemente, comecei as despedidas..Gosto destas amigas que me rodeiam, com quem tenho partilhado a existência... Algumas delas conheço-as desde sempre.. A Zélia, a Leo (tão bonita), a Cláudia...A Cláudia, chef de cuisine, formada durante a experiência de expatriada no Canadá... A graça e elegância de uma francesa, a pontualidade de uma britânica, a ética de uma alemã, o coração de uma nordestina...e simplicidade...Uma cidadã do mundo como eu costumo dizer, portuguesa honorária, titulo conquistado por mérito próprio..
Em Barcelona, o que farei? Deixarei cair o hábito dos cafés da manhã, das cumplicidades, dos almoços sem pressas? Haverão Joanas, Celestes, Leos e Carolinas, Cristinas e Anas, Alejandras, Alexandras e Cláudias?

Cachorro!

Estou contente! E faz parte do "pacote"! Se o destino traçado é continuar na profissão de saltibanca (de luxo, é verdade),então, então, quero um amigo! Um amigo especial, de quatro patas, com um sorriso cheio de dentes, nariz quente e húmido, pelos para eu poder correr a palma, hálito fétido e língua molhada completa de afecto, olhos meigos, cauda a dar-a-dar...Um cão, um cachorro!
Faço planos...Levá-lo para todos os lados...Irmos buscar as crianças à escola, andarmos no parque, correr ao lado da bicicleta.. E rosnar, cabeça de fora, a todos os motoristas barbeiros que tentem ultrapassar-me quando eu estiver no meu direito...

Casablanca

No inicio a minha conta jazeu, sem comentários ou tentativas da minha parte por incrementá-la.. Assim esteve, abandonada, até que um dia, sem nada para fazer, sem vontade de fazer nada e por pura curiosidade, comecei a descobrir o mundo dos amigos virtuais, a um clic de distancia (cliché!), no matter what, disponíveis, prontos a largarem umas piadas, a serem simpáticos, a dizerem "gosto" a tudo o que fazemos...So nice! E o tempo foi passando e eu fui coleccionando as pessoas, sendo descoberta e descobrindo outras que julgava já perdidas, nunca mais a encontrar, nas brumas do tempo e das distancias criadas por rumos apontados a nortes diferentes...
Hoje o Face é uma obrigação, acordo de manha e procuro os comentários dos habitués, rio-me com algumas piadas secas, sei das noticias pela SIC, vejo as fotografias dos recem-nascidos e parabenizo os aniversariantes...Espreito a vida dos meus vizinhos pelas portas de vidro de cortinas escassas.. O Luís não gosta, mas aderiu enfim ... De quando em vez senta-se em frente ao PC, de óculos na ponta do nariz, pesquisando com cuidado as fotografias, afirmações e outros com que eu enfeito a pagina...Acho-lhe piada e tento seguir as instrucções do homem da segurança e não prevaricar....muito! Mas desde que tenho o IPhone e porque Sampa parece-me fugir entre os dedos, as imagens dos locais que eu gosto acabam por aparecer com maior frequência, tenho o desejo de perpetuar o momento, receio a despedida, que seja "até nunca mais!" em vez de "até já!"... E penso naquela primeira afirmação que ouvi, perdida nos meses e meses que por aqui passei.."chega-se a S. Paulo a chorar e saí-se a chorar de S. Paulo..." Terei sempre o FB para me recordar que, de facto, aconteceu!

Terramoto

no Japão! A Yulitza telefonou-me logo de manha a tranquilizar-me. A Sandra, Diego e crianças estavam bem, mas ainda assustados.. O FB também trazia as noticias da Giselle...O desastre, terrível, não teve consequencias pelo menos imediatas, para aqueles que nos são próximos e que, contudo, estão tão longe! Mais tarde liguei e falei com a minha amiga, já refugiada em casa, um prédio moderno e resistente aos balanços que a Ilha insistentemente sofre..
A Sandra encontrava-se a almoçar quando tudo começou.. Vinte minutos depois, impaciente,com o coração ao pé da boca, arrancou de carro, directa para a escola onde Helena, Carolina e Gabriela esperavam o desenrolar do drama, junto às outras crianças.. De carro, num chão que tremia...
Ser expatriada é assim! Fora o glamour de uma vida diferente, das viagens, de todo um universo que se estende à frente e obriga ao desatar dos laços mais apertados, é um eterno recomeço, é um estar precário e solitário.. É preciso coragem, capacidade de decisão imediata e força para enfrentar o desconhecido... Não é para todos, é certamente para Sandra.
Um abraço

Ana Alentejana

Na sua letra pequenina, direitinha, entre o redondinho e o ligeiramente infantil, escreveu:

1 ovo
12 colheres de sopa de farinha
6 colheres de sopa de leite
3 colheres de sopa de açucar
1 colher de fermento
Junta-se tudo, fazem-se bolinhas para se levarem a cozer em forno quente.
Para os dias de Inverno,
um beijinho da amiga
Ana

Sao scones! E como o Verão parece ter partido de facto (ou de fato), cumprindo o desejo desta alentejana que mora no meu coração há já mais de duas decadas, no forno da cozinha do apê 7/72, doze bolinhas, aninhadas, cozem! O Francisco e o Pedro, esses esperam impacientes!
Conheci a Ana no Instituto Superior de Serviço Social num dia de Outono, na fila da cantina, onde, com a Fátima, discutia a possibilidade de um grupo de trabalho.. Aparentemente na turma recem constituída todas e mais algumas se haviam já agrupado.. Resolvi que iria perguntar às duas primeiras que ali aportassem se queriam trabalhar connosco.. Brincalhão, desta vez, o Destino decidiu pela Ana e a Toísa.. O Alentejo Moderno e o Alentejo Antigo.. Inquiridas de chofre, também à deriva, nem tiveram tempo para pensar.. "Bem, está bem", respondeu a mais fininha, olhos longos e morenos, cabelos escorridos cortados em degradée..."Podemos experimentar..", dúvida estampada nas lentes redondas, cenário mais conservador, a Antónia Luisa.. Experimentamos e resultou! Durante 4 anos não nos largamos, a maior das brincadeiras, a par de resultados, umas vezes sofriveis, outros muito mesmo razoáveis.. E quando os prazos apertavam, reuniamo-nos no apartamento da Ana em Benfica, em jantares intermináveis e noites impagáveis, cheias de risos, boa disposição e loucuras saudáveis...Depois eu chumbei um ano e separei-me delas, cada uma em tarefas diferenciadas..Mas num lugar especial, a Ana e Fátima ficaram, ficaram para sempre!  E eu adoro a minha Alentejana, quase quase a fazer 46 anos, ar de teen, magrinha, menos moderna, mas de humor intocável..
Alex-com-saudades...

Foge comigo Maria

Quando nasci, a Fada Madrinha que estava de serviço nesse dia tinha uma imaginação desenfreada.. Era também, quase de certeza, distraída e, como tal, ao dotar-me dos dons que trazia como obrigação, passou-me os dela esquecendo outros sempre tão preciosos para o desenvolvimento harmonioso de uma rapariguinha..Exemplo: movo-me como um general em vésperas de manobras militares e não tenho ouvido musical.. Assim, quando gosto de uma musica fico o dia inteiro a tentar cantarola-la.. Obsessivamente oiço-a tantas vezes quantas as possíveis nos trajectos que faço, tornando-a no fim, absolutamente intolerável a quem me rodeia.. E agora, agora aconteceu ao foge comigo Maria dos UHF!! Se tu fosses girassol...Adoro!
E a propósito de Maria, conheci uma aqui nos Champs, mora no bloco ao lado do meu! Portuguesa de Cascais, de pronuncia a condizer, acabada de ser exportada para S. Paulo...Tem um sorriso agradavel e é uma versão loura da morena Dinora.. Muito engraçado olhar e ver o negativo da fotografia..

Carnaval

O Carnaval anuncia-se cheio de chuva e sol encoberto.. O facto de ser fim de semana e o tempo não cooperar torna-nos sem grandes perspectivas.. O que fazer neste sábado tão desmotivante? Os miúdos, mais expeditos, a seguir ao almoço "mandaram-se" para casa do Pedro Silva, o pestinha que divide a classe na escola com o Francisco e também o espaço, no condomínio.. O Luís, depois de uma sessão na academia, dorme uma soneca no sofá e eu,eu, já lavei a loiça toda que sobrou do jantar que fiz em casa ontem, celebração tardia do aniversário do senhor meu esposo.. Dei por mim a pensar que seria, talvez, o ultimo.. E isso remete-me claro, a Barcelona.. Às caixas e caixotes, ao embalar de toda a tralha reunida ao longo de 5 anos.. A vivência brasileira que se vai esgotando fininha, tal e qual a areia colorida da ampulheta...

Outono

A refeição favorita do Luís é o café da manha (vulgo pequeno-almoço).. De forma ritual, todos os sábados e domingos (caso estejemos em casa), coloca a torradeira, manteiga, queijo, doce, pratos, chávenas e café na mesa, arrasta-me do meu lugar de poiso (a cama onde aproveito até ao ultimo instante a soneca prolongada), coloca um DVD das suas musicas mais favoritas e desata a fazer torradas... Como normalmente se encontra super bem disposto (não teve que se levantar cerca das 6 horas, não enfrentou filas de transito resmungando o  habitual mantra "porque é que não andam? estão à espera do quê? estes gajos nunca vão aprender a guiar?"), enquanto barra cuidadosamente o pão, respira profundamente e inicia o ataque matinal (ainda eu estou meio lá, a tentar colocar em ordem os pensamentos, cabelos desalinhados e olhos inchados) que começa pelo habitual "então Gorda, que novidades é que há? Que novas estórias tens para me contar?"... Este domingo, no entanto, foi diferente! Com muita delicadeza (coisa que, lentamente, ao longo dos anos de convívio começa a surgir de forma ainda tímida), anunciou-me: "Vi o teu blog! E tenho-te a dizer que andas a perder a piada, já não é tão giro assim ler os teus posts! Já não falas sobre Vera Cruz!"

O Luís tem razão! Deixei de ser "viva" nos meus relatos, ando melancólica e prefiro os tons pasteis aos traços coloridos e rápidos, deixei as legendas para me por a divagar sobre a existência e sentimentos..Pfff, que tédio! Estou no Outono!

Arrrgggggg

Tenho uma larva no peito do pé! Aparentemente responde pelo nome de larva migrans, mas para mim é um autentico alien que me ensombra a existencia, me arrepia os pelos do braço e da nuca!! (Cabelos esses onde acabei de fazer umas nuances em tons cobre na vã tentativa de disfarçar alguns brancos teimosos que nascem em cacho no lado direito da cabeça..Segunda  a Harumi, a cabeleireira japonesa que tão sabiamente toma conta de mim, tenho que me render à evidencia de uma loirice precoce, forma mais eficaz.. Perante o meu esgar de pavor, mais comedida, sugeriu então o mel.. Prometi pensar!)..Onde é que eu ia? Ha sim, no bicho horroroso que teve a desfaçatez de fazer de mim ninho e caminho.. Apanhei-o na praia, na minha amada Juquehy, tão dourada e formosa, verde e azul, de águas cálidas e serviços prontos (adoro comer um fillet mignon esparramada na cadeira por debaixo do toldo..).. Aparentemente vive nos cocós dos cachorros não cuidados e um apêndice macio como o meu deve-se ter constituido como um verdadeiro petisco (lá está, o filet mignon!).. Tive que tomar um desparasitante (e obriguei todos em casa a seguir o exemplo não obstante a magnifica desculpa do Luís para não o fazer..) e ponho pomada a toda a hora..
Apesar de veterana nos trópicos, até agora não havia ainda sofrido os ataques dos animalejos esquisitos que por aqui pululam..

Near

Ontem confirmou-se a noticia, as negociações intermináveis chegaram a consenso e hoje, hoje, tornou-se um facto! É chegado o tempo de partida, de despedida, de saudade e de novos desafios: vamos deixar Vera Cruz!  Cinco anos depois.. Já contei e recontei incrédula, pelos dedos da mão esquerda,  ajudada pela direita que segura as pontas: Março, Abril, Maio e Junho! Em quatro meses apenas estarei longe de S. Paulo! É estranho, tão estranho, que nem sei o que pensar..
Ficaremos mais próximos.. Alex-em-Barcelona..

14..

...de fevereiro, dia dos namorados. Por tradição e por S. Valentim, em terras da Europa e no norte do continente americano, não ainda em Vera Cruz, que, tropicais, mais preguiçosos, mais lânguidos, o deixam para alturas mais frias! Troca de presentes, de flores e de beijos.. Jantares à luz de velas, mesas bonitas e mãos enlaçadas por baixo delas, de forma discreta, anunciando a noite de abraços...E, nem que seja por momentos, os amores, até os mais velhos se tornam novos..

Desejo-vos o melhor

Alexandra



Noticias de morte

Hoje pela metade da minha manhã recebi um sms que me informava da morte do pai de uma amiga.. O Joaquim, marido da Joaquina, pai da Dinora e da Mónica, sogro do Jorge, avô do Alexandre, da Laura e de um bebé por nascer..Fiquei triste, tive pena de não estar em Portugal e poder abraçar a minha amiga de longa, longa data e despedir-me dele.. Era um homem interessante, foi pelo que soube, uma criança que cresceu demasiado depressa empurrado pelo mundo dos adultos.. Morreu depressa também, com anos de antecedencia, devorado por um cancro implacável que teve apenas um efeito benéfico, o de o aproximar da pessoa parecida com ele, a Dinora.. E aparentemente, depois de anos inconformado com o rumo, morreu feliz, tendo tido neste Dezembro que passou, a época mais em paz da sua muitas vezes menos calma existência...

Sabado o telefone tocou às 3 da manha interrompendo-me o sono que tinha sido iniciado um pouco antes, retinindo aos meus ouvidos de forma absolutamente aterradora... Dei um salto enorme, acendi as luzes e com o coração completamente acelerado, ergui o auscultador, convencida de que atendia uma noticia de morte.. Afinal, era o Pedro, que, insone, baixinho, na casa dos amigos que moram aqui no condomínio, protestava a falta de sono pedindo para voltar a casa.. Nessa noite, esperei a madrugada de olhos abertos, reflectindo no susto que tinha levado, desejando que fosse verdade, que a morte, acontencendo, se tratasse apenas da passagem de uma dimensão para outra.. Que aí nos fosse permitido reencontrar os que amamos, abraçar a quem vamos perdendo, existir de uma maneira mais bonita, sem dores, sem doenças, nem desamores...

Sexo pela tarde

Acho piada ao título que escolhi e estar a teclar com um dedo só, no brinquedo novo que o "Pai Noel" (uma mistura friendly entre o habitual Pai Natal português e Papai Noel brasileiro) me trouxe, um fantástico IPhone que tem tem feito a minha mais absoluta felicidade nas ultimas semanas!!! Que espectáculo poder seguir com tranquilidade a rotina dos amigos virtuais no FB e que fácil consultar o Google e assim decidir que a minha tarde de domingo seria plena de ..sexo! Sim, porque há-o explicito e constante no Pavilhão dos Conhecimentos na Expo, dedicado a todos e em particular, a criancinhas entre os 6 e os 14 anos de idade!

Após quase um mês em Terras Lusas, urge a necessidade de fazer algo que retire os meninos de casa, já que, inclemente, depois de um verão absolutamente glorioso em que a Mãe se vestiu do azul mais puro e se penteou de sol, decidiu chorar e ainda não calou as lágrimas..

Posição de Buga

Ontem deitei-me a rir com a afirmação do meu petiz mais velho, que comodamente instalado ao meu lado no carro, mas aborrecido, relatava o dia dando especial ênfase ao facto de ter estado interminavelmente sentado em posição de "Buga" no ensaio geral da peça da turma, consequencia dos constantes ataques de riso dos colegas que não atavam nem desatavam.. A posição de "Buga", segundo o Pedro, fazia doer as pernas e às tantas já não dava para assim se manter apesar de ser a adoptada pelos narradores, grupo do qual fazia parte!

Atento, sentado atrás, o Francisco não perdeu pitada e aproveitou para debitar a pragmática opinião guardada para as ocasiões, cantando-a de forma diferente da usual, fruto do malvado aparelho que a odontologista Cristina do Uruguai lhe plantou na boca para alargar o osso do céu e dessa forma permitir finalmente, o nascimento dos caninos que há longo tempo se escondem sem ousarem descer.. Pobre Francis que momentaneamente perdeu a faculdade de utilizar os erres e de devorar em instantes, a comida como tanto gosta! Tornou-se assim um cavalheiro à força, com garfadas pequeninas e refeições alongadas!

Hoje a casa está silenciosa, o meu pequenino dorme fora e o Peter, saudoso do irmão, nao subiu as escadas do beliche e aninhou-se na cama de baixo.. Apesar da conversa séria mantida um dia destes em que me avisava das naturais desavenças que a idade dele trazia relativamente ao mais novo, sente-lhe imenso a ausência e o mesmo acontece ao outro..

E por falar em falta e saudades, começo a sentir que é tempo de retorno, de casa portuguesa, arrozes de polvo e abraços.. Já falta pouco.

Aborrecida

Sim, é verdade! Ando aborrecida e os meus olhos não descobrem na paisagem habitual a necessária novidade que me lava a alma e faz prosseguir em direcção a qualquer coisa que nunca sei o quê.. Faltam cores aos dias e auras às pessoas que se atravessam no caminho.. O céu em constante cinzento por sobre os prédios enfada-me enquanto percorro as estradas rotineiras.. Suspiro por um lugar diferente, temperado de cheiros novos e cenários inesperados que me façam, de novo, sentir viva.. Desejo mastigar deleitada uma refeição divina e comer um doce extraordinário .. Sinto-me adormecida.

Voar!

Ando com uma mania nova.. Gostaria de voar.. Sim, literalmente! Como em "Cinco semanas em balão" do mestre Júlio Verne, mas sem aterrissagens forçadas, com aventuras mais calmas do que aquelas que me preencheram a imaginação há já muitas décadas atrás... E como o balonismo parece ter voltado com alguma força, tenho feitos alguns planos doidos para transpor para a realidade este meu desejo.. Apoiada pelo primogénito deparo no entanto com o não firme do meu codé, que tem medo de acidentes aéreos..

Quando a realidade não o permite, o sonho interfere..E foi assim que, nos braços de Morfeu, esta noite, levitei com uma facilidade incrível durante algum tempo, a meio metro do chão! Dei um impulso e pronto! Depois, à base da energia que se me escapava entre os dedos das mãos abertas, assim me mantive, numa sala desconhecida, enquanto aí permaneci sozinha! Uma sensação fantástica, feita de coração aberto e com a convicção inabalável de que me era inato e tão fácil!

Depois, já de acordada, lembrei-me do meu pai que tantas e tantas vezes sonhou que voava...

Saudações,

Alex-em-fim-de-semana-estendido...

Deserto..

A viagem, planeada há já alguns meses, aconteceu finalmente, aproveitando-se o feriado grande a que se juntaram mais dois dias de férias.. Nas bagagens (os sacos de marinheiro que nos habituamos a carregar para todo o lado), roupas leves e quentes misturavam-se, anunciando as amplitudes térmicas tão temidas do deserto mais alto do mundo!

O Atacama. Lindo! Lindo, desnudo, tão seco, tão quente e tão gelado!! Marte que se transformou por via da má pronuncia do belga que o baptizou, em Vale da Morte, as pedras lunares, a rocha quebrada em mil pedacinhos, areia castanha sob os pés, solta, que se evapora em nuvens de pó que cobrem as roupas, a pele, o cabelo e entra mansinha nos pulmões, dificultando as golfadas de ar que por vezes se sorvem em desespero porque, naquela altitude, o oxigénio escasseia..

Os vulcões, perfeitos cones que se entretêm a construir castelos de vapor, emolduram até onde a vista alcança.. Lagos salgados com flamingos pernetas cor-de-rosa que encaram indiferentes as maquinas fotográficas, lagartos coloridos olham desafiadoramente os humanos e no meio da estrada, linda, fulva, uma raposa esperta, não foge, aguardando com olhos gulosos e língua de fora que a alimentem...

Faltou apenas o condor, pássaro em extinção. Símbolo orgulhoso do Chile...Tive esperança e pena, mas  não o avistei apesar de tantas e tantas vezes ter erguido os olhos ao céu, à procura das asas magnificas que alcançam, em 24 horas apenas, distancias míticas..

Noutro dia, lagoas em ebulição, os geiseres, a ferver, lançando água e colunas de fumo no ar a 14 graus negativos que engordava os turistas envoltos em camadas e camadas de polares, cascois e barretes de lã..

Pores de sol no alto de colinas subidas a custo, descida de dunas negras que teimosamente se enfiam nos sapatos, paisagens enfeitadas de cactos, de lamas, que pastavam, de repente, num vale pequeno e verde, oásis que nascem no meio do nada, cultivados pelos nativos.. Duas lagoas absolutamente azuis despontam num vale dourado....

Uma viagem diferente.

Quarenta e seis!

Dia 24 fiz quarenta seis anos! Solange, a manicura motoqueira dos Champs, pintou-me as unhas de azul (as das mãos e pés) e, usei, pela primeira vez, um par de sapatos bem altos (Arezzo, absolutamente fantástica). Hoje fui ao Shopping Morumbi e troquei-os por outros, de saltos forrados a sisal, ainda mais finos e longos, de tiras de ganga clara cruzadas, com rebordo em amarelo discreto e abotoados no tornozelo, que me fazem tão alta, tão alta!!!

Estes ultimos meses as rugas em redor dos olhos acentuaram-se e uma mecha de cabelos brancos teimosa instalou-se...Em contra partida, graças ao aparelho ortodontico colocado pela minha muito atenciosa e zen dentista Graça, o sorriso tranquilizou...  E segundo o oftalmologista judeu velhinho que frequento com determinação, "..ainda não é este ano que você vai usar óculos Alexandra.."

Mais um ano!

Acabei de ver o filme Julie/ Julia... Versa duas mulheres que tal como eu, gostam de cozinhar! Apesar de ter que me levantar de madrugada para levar o Pedro (completou na minha véspera natalícia uns felizes e radiantes 12 anos) a uma competição de natação, senti de súbito, uma vontade imensa de escrever..

Beijo grande,

Alex-de-meia-idade-definitivamente..

Esta noite..

..tive um sonho engraçado. Sonhei com a Rosa Lobato Faria, sabendo que ela já não caminhava entre nós! Eu conversava com o espírito, transmitindo este na dimensão em que nos encontrávamos, a mesmíssima impressão que retive pelos livros que escreveu, pelas entrevistas que deu e pela forma de estar: a de uma senhora, uma senhora na acepção mais querida que esta palavra possa implicar.. Foi um sonho bom, em que eu lhe pude dizer o quanto a admirava.. O quanto a justiça de "O pranto de Lúcifer" me havia marcado...

Quando acordei, acordei bem. E recordei-lhe o cabelo, arranjado tal e qual como a minha mãe arranjava o dela, todas as semanas, no cabeleireiro do nosso bairro..

Bolos!

Parafraseando o Herman nos seus tempos mais aureos, "eu é mais bolos"! E assim tem sido, especialmente, desde que, dona amantíssima da minha Bimby, descobri para ela outros caminhos que nao somente os da sopa, do famigerado arroz doce ( "Essa é Ale! Minina, ela faiz um arroiz doce que é dgi comer dgi joelhos!"), do molho branco para o eterno bacalhau com natas (cremi dgi leitchi) e a lasanha tão adorada pelo meu quase teen, Pedro! Bolos! Bolos aos montes, sendo que o que melhor perfuma a casa (parece mesmo que estamos no campo, os passaros trinam, a avó de cabelo branco e avental passado acabou de colocar o lanche em cima da mesa, com toalha aos quadrados, por baixo da arvore do jardim...) é o de mel, receita absolutamente impecável do consagrado Chef portugues Victor Sobral, para a maquina "infernal" que se tornou a minha grande amiga e companheira de todas-as-horas-na-cozinha! Sim, digo isto sem pejo e pruridos! Eu agora sou "Do Lar", o que aqui em Vera Cruz, literalmente significa: "Esquece que foste educada para seres uma profissional competente e independente, assume de uma vez que estás transformada em doméstica, mascarada de dondoca!", entre saltinhos, em que faço uma vida mais votada aos deveres que se pontuam pelos que sao impossiveis de fugir (mãe dedicada e amorosa, com gritos e ralhos q.b.) e uns menos obrigatórios, mais "prazenterosos", classificando-se entre estes, a re-descoberta dos bolos!! E se na minha adolescencia nao havia dias em que nao me aventurasse no ramo, durante os muitos anos que se seguiram, bolos, só mesmo os da mãezinha, da Tia Mané e todos quanto os que se atrevessavam no meu caminho, incautos!

Guiada pela amiga CC, fui deparar com  as sobremesas de Leonor Sousa Bastos e o seu blog "Flagrante delícia", completamente criminoso e que eu recomendo totalmente, porque não só escreve e descreve as receitas de forma divina e bonita, como também apresenta algumas bem simples, que nos deixam de água-na-boca. E mais não digo, porque tenho que ir a correr tirar o "Bolo com Streusel" do forno...

Beijocas,

Alex-do-Lar

Continuação..

Pensando sobre o assunto e porque acredito, acho que o Holandês era um Anjo! E se não era, veio aqui com uma missão importante: amar Valentina e Violeta no momento certo. E tudo aconteceu como deveria, porque Valentina encontrou o Roberto, o Francisco, o Afonso e a Cuca, golden girl, que juro, é absolutamente verdade, tem nos caracóis ouro pulverizado! Sobre os reflexos da Cuca que me fascinam e me mantêm os olhos prisioneiros, poderia escrever mais, mas na fila alinham-se outros amores..O Afonso que nasceu com uma bola de futebol colada aos pés e que num gesto de rebeldia, deixou de se parecer com a mãe para ficar igualzinho ao pai.. Quanto ao Francisco, jogador de pólo aquático, fisionomia e simpatia que competem em pé de igualdade, em S. Paulo, Jardins, executa um magnifico trabalho ao garantir nos corações das meninas brasileiras, que menino português não tem competidor à altura nesta latitude e longitude..

Mãe atenta e amorosa, Valentina desdobra-se entre os quatro, garantindo que Constança-a-Feliz dance como Ginger Rogers, que Afonso-o-Intenso consiga gerir a sensibilidade, que Francisco-o-Natural se questione de vez em quando, que Violeta-a-Sensata repouse a cabeça bonita no colo ao fim do dia..

E Roberto? Bem, Roberto, que na qualidade de chefe lhe pregou um beijo enorme dispensando-lhe os cuidados profissionais para com ela casar, tira-lhe o sossego, ciranda de país em país e não a dispensa.
Entre o amor do pai de Violeta, o do Anjo Holandês e Roberto, doze meses correram, às vezes velozes, outros lentos, porque a dor arrasta o tempo e a felicidade engole-o..

Dia das mães

Em Vera Cruz os festejos tradicionais andam muitas vezes desfasados relativamente aos nossos.. Como por exemplo, o dia dos Pais (que se não me falha a memória, aqui acontece em Agosto ao invés do nosso tradicional Março), assim como o dos Namorados, da Criança e outros ainda.. Há sempre vantagens claro, e neste caso especifico, para quem como eu é expatriado, a de se poder celebrar duas vezes num ano só, uma data mais especial.

Domingo passado foi o dia da Mãe em Portugal e este que vem, será também aqui no Brasil! Por isso, receberei com toda a certeza, dois cartões cheios de declarações deliciosas (e contou-me um passarinho impaciente), uma caixinha de biscoitinhos feitos na escola, assim como algo muito pessoal do Pedro, que apenas desembrulharei na segunda feira, porque, (palavras do próprio), " a tinta não secou a tempo!"

Em S. Paulo, bem como no resto do país, os filhos maiores e pais de meninos pequenos, levarão as mães a almoçar fora, enchendo os restaurantes; os mercados de flores terão o momento mais lucrativo dos meses obrigatórios do calendário juliano e, durante a semana que antecede este movimento, desde as lojas mais caras às baratas, todas terão presenciado o desfile de uma população que reverencia o dia de uma forma quase absolutamente religiosa!

Para as que carregaram os bebés em si, para as mamis to be e para aquelas que o são na alma e coração,

Um abraço e um dia muito feliz

Alex

O casamento

A Teresa e o Gonçalo vão casar! Estava eu, em pleno sábado, a passar a ferro (sim e continuam todos a julgar que tenho vida de dondoca!) quando o bolso do meu avental laranja que diz "Alex", tremeu! Mensagem! Julguei que era o Luís prestes  a apanhar um avião rumo à Velha, Amada, Sentida, Ausente e Suspirada Europa para uma reunião na Hungria (com paragem obrigatória na mais afamada cidade do luso cantinho, Setúbal), mas não! Era da Teresa, texto simples que dizia: "Minha querida amiga do coração. Quero muito partilhar contigo que me pediram em casamento eu e disse... SIM".. Fui às lágrimas!

Tão romantico e bonito! E depois, estão apaixonados e encontraram-se na altura certa da Vida! E já viveram ambos o suficiente para saberem que era o Tempo. Com o Futuro, folha branca e lisinha, à espera de ser desenhado, sem margens e limitações!

Parece-me que afinal existem "happy ends" soltos por aí, prontos a serem colhidos como flores.

Para a minha Teresa que nunca desistiu de mim e para o Gonçalo que quer queira ou não, passou a fazer parte dos "amigos de Alex",

Um xi-coração muito apertado,

Até Julho!

Valentina e Violeta

Aqui em Vera Cruz tenho tido o privilégio de conhecer e conviver com  mulheres extraordinárias, com estórias bonitas..

Quando Violeta nasceu, Valentina sentiu-se recompensada. Inspeccionou com cuidadoso amor o nariz, a boca, as mãos, o corpo, para depois verificar, sem surpresa, o rosto, que afinal, sabia de cor.. E no caso, era um rosto lindo. Violeta continua assim. Sorriso branco, pele macia e perfeita, cabelos louros bem cuidados. Feminilidade nos gestos e no andar...Pronta a entrar na idade adulta, é ainda adolescente na figura... A cabeça, essa, é de quem foi educada para as responsabilidades que assume sem hesitar..

Há muitos anos atrás era Valentina a menina de ouro. Passeava a sua alegria, estudava Direito e tinha-se apaixonado pelo pai de Violeta. Um homem mais velho, cheio de graça e recursos, com uma vida escondida onde cabiam uma mulher e dois filhos adolescentes.. Quando a gravidez se anunciou, deu-se a fuga... Voltaram-se a ver somente no dia em que ele entregou à filha de sangue, o nome da família.. Durante 12 meses negou a existência de ambas, para depois, perceber que afinal, queria mais...Foi tarde, a Vida já não lhe reconheceu os direitos e decidida, tinha aberto o caminho dos Mundos às duas!

Primeiro veio a praia de Ipanema onde Valentina, numas férias felizes, conheceu o Holandês que voou para Portugal com braçadas de rosas nas mãos e depois, levou a mãe e a bebé consigo, rumo ao país das socas de madeira, do mar devorado pela terra, dos duendes de barretes da cor do arco-íris nos jardins tão cuidados, das bolachas com recheio de doce de leite tão boas...

A existência no "país-laranja" foi pacífica e a vida de veterinário de província, cuidador de vacas e cavalos, reuniu os ingredientes que ainda hoje, em serões de amigos, fazem bem dispostos quem tem a sorte de ouvir as aventuras da pequena família, não fora a tristeza de saber, que um dia, tão poucos meses depois, numa visita fugaz a terras lusas, o Holandês partiu para sempre num acidente de carro.

Valentina chorou e sentiu assim:

- um contacto muito directo e real com a morte, fisicamente com dor e repulsa...

- uma tristeza profunda por aquilo que ambos poderiam ter sido..

- pena, principalmente por ele..

- desespero pela situação em que se encontrava..

- perdida...

- e tão confusa!

Conto o resto noutro dia.

Beijos

Pegadas na areia fluorescentes..

Esta manha olhei pelos vidros da varanda e decidi-me pela piscina, depois de que a paisagem orlada de casas baixas e prédios distantes me devolveu, em absoluto, os olhos cheios de azul e de sol. Conseguido o dificil acordo com os herdeiros que se alongavam na preguiça e nos jogos electrónicos, descemos em direcção à água convidativa... Cheio, o recinto denunciava o fim do Carnaval e o domingo preguiçoso...

Zélia, uma das minhas amigas brasileiras, estava lá.. De óculos escuros, pele bronzeada pela estadia na Bahia natal ("Nasci em Salvador por engano Ale... Deveria era viver na Suécia, no meio do frio..."), de caipirinha de maracujá nas mãos, proseava com os amigos e o marido.. Num dos mergulhos, cabeça de fora e sorriso sempre pronto, conversamos sobre as viagens que costumava protagonizar num Brasil mais distante ("Nessa altura, Ale, era seguro você montar a barraca em qualquer lugar.. numa praia deserta, no meio de um campo.. Sem problemas! Eu e Clemente - o marido psiquiatra - fizemos esse país fora num fusca.. Eram viagens bem legais...").. Mas de todas as que contou no seu jeito simpático e directo, a mais diferente, foi a que lhe aconteceu, ainda antes do namoro com o shrink, no meio das irmãs..

Estavam na Ilha de Itaparica e como a noite convidava ao passeio, resolveram andar descalças pela praia (imagino-a a ela, num vestido muito longo, de estampado exuberante, elegante, mas sempre prática...), pisando com prazer o tapete de algas que a maré tecera nessa tarde.. à medida que imprimiam as pegadas no verde, voltando-se para trás, podiam observar as impressões que se faziam fluorescentes.. "Nunca mais Ale, nunca mais eu vivi algo semelhante! Clemente costumava dizer que estávamos maconhadas.. Estávamos nada!"

Ao ouvi-la recordei uma madrugada vivida no Portinho da Arrábida em que todas decidimos tomar banho à luz do luar, despidas.. Deixamos a roupa na areia e mergulhamos no mar completamente transparente, absurdamente frio.. E os salpicos de água, pareciam ter luz própria.. Magia!

Dia de S. Valentim em Terras Lusas

O sono fugiu. O Francisco, pé e depois pé, atravessou o corredor em zig zag da casa, na pressa de chegar à cama. Aos sete anos de idade, ainda tem o gosto de me visitar subitamente no quarto, aterrando a cabeça sem cerimonia na minha almofada.. Não faço nada, estendo o braço dou-lhe um beijo, oiço o suspiro de retorno ao sono e na maior parte das vezes acompanho-o, ora aconchegando-me no seu calor, ora fugindo dele porque os trópicos, no seu melhor, não permitem as aproximações... Hoje, abandonei os dois na king size e decidi o caminho até ao beliche dos meninos.. Inutilmente, depois de uma valente topada nos dedos do meio do lado esquerdo, consequência de ter feito o trajecto de olhos fechados e meia tonta, não mais consegui voltar a adormecer!

Espantado o João Pestana, decido escrever. Em terras lusas e noutros países que não Vera Cruz, hoje é dia dos Namorados.. Por isso vou contar ("conta-me estórias"), uma estória de amor que ouvi relatada num jantar, numa varanda, numa noite muito feminina - a mesa dividida, homens de um lado, mulheres do outro - de velas acesas, de calor imenso, de cheiros bons, de comida divina, de risos e intimidades. Achei-a linda, é verdadeira e temperada com um dos meus ingredientes favoritos: a coincidencia!

Camila tinha-se apaixonado. Completamente. O primeiro amor, não o primeiro namorado! Era totalmente conrrespondida e os dias passavam-se fáceis; quando não estavam juntos, telefonavam-se horas seguidas entre o intervalo do jantar e o acordar do dia seguinte.. A Vida, tal e qual um mágico do circo perito em ilusões, havia-os colocado na mesma escola, no mesmo bairro, tão perto tão perto.. Só para depois, num golpe sem misericordia, decidir separa-los. Brutalmente! E foi assim, que numa reviravolta do destino, os pais dele se decidiram por uma vida no estrangeiro. África do Sul! Poderia ter sido para Espanha (tão fácil), para Itália (tão romântica), para Inglaterra (tão acessível), para França (duas horas de avião e voilá).. mas não! A África mais difícil, a tão longe, a tão diferente! Choraram, choraram e no fim despediram-se com promessas de amor infinito!

Durante um ano as cartas chegaram a Camila, certinhas, todos os dias. Missivas de amor que a acalmavam enquanto esperava o domingo, dia em que o avô ourives, comovido pela vontade e sofrimento da neta predilecta, a autorizava a falar cinco minutos ao telefone com o apaixonado longínquo! Metódica como ela só, Camila apontava com algum frenesim todos os tópicos a abordar durante o que pareciam escassos segundos, os mais aguardados, aqueles para os quais vivia, em suspenso, sete dias de cada vez...

Nesse ano o Natal chegou para todos na casa excepto para Camila. Subitamente, sem qualquer aviso, as mensagens diárias que eram o alento da menina, cessaram. Um dia, dois, três.. Foi-os contando e quanto atingiram os sete, depois do desespero e desgosto demonstrados ter feito o pai dragão oferecer-se para a levar a atravessar os oceanos, sob a alçada carinhosa do avô artista, o telefonema derrubou-a completamente. O namorado, aquele para o qual tinha se entregue de forma tão exclusiva, contava-lhe que vivia um novo amor. Tudo estava então, terminado.

Camila morreu. Depois lentamente voltou a viver, retornou aos hábitos, aos amigos e aos sorrisos. Estudou, casou, teve filhos e veio morar em Sampa. Mas antes, um pouco antes de tudo isto, mais generosa, a Vida quis-lhe dar uma satisfação...

Num dia de verão bonito, antes ou depois de um encontro no escritório do pai (já nao me lembro bem), em pleno Camões, Camila viu um rapaz louro, giríssimo que a olhava de forma insistente. Como nos disse a todas nessa noite, "ele era uma brasa e de repente, dirigiu-se a mim e perguntou-me: tu és a Camila, não és?.. Fiquei de boca aberta a olhar para aquele desconhecido!!" De seguida, ele explicou-se! Era um grande amigo do antigo namorado, vivia na África do Sul e havia-a reconhecido das incontáveis fotografias que pendiam das paredes do quarto daquele.. Contou-lhe ainda que ele tinha sofrido de forma tão intensa a sua ausência, que havia decidido terminar o relacionamento, tendo sido inclusive internado por um período de tempo limitado, numa clínica...Ao contrário da musica foleira "afinal ele tinha outra", ele não tinha tido ninguém. Amava-a a ela, Camila.

Passa um pouco das seis da manha aqui. A todos um dia feliz.

Camila, este post é para ti,

Com toda a amizade,

um beijo

Alex-em-Terras-de-Vera-Cruz

Longe de Vera Cruz...

...em casa, em Setúbal... "cidade divina dos peixes" assim celebrada pelo fenícios e lição nunca esquecida, no primeiro ano do ciclo, aula de Estudos Sociais...

Divina não será, embora na realidade seja difícil de perceber, como é que sendo enquadrada por uma das paisagens mais bonitas de sempre, esteja tão amaldiçoada que leve os habitantes a dela fugirem e os marginais a instalarem-se cada vez mais... Os arquitectos a descuidarem o que deveriam cuidar com carinho, os naturais a não preservarem a herança e a aperfeiçoar os dotes sociais...Apesar de tudo, a volta, o reencontro é sempre desejado ainda que no final perdure a vontade de partir de novo..

A tarde está radiante, o sol brilha intensamente.. Da janela da minha sala ainda mantenho o privilegio de continuar a "enxergar" parte da serra... O céu azul, azul, é incomparavel! Já dei o almoço aos infantes, coloquei roupa e loiça a lavar, falta fazer as camas e arrumar as malas no "quarto das desarrumações"... Nada como preguiçar um pouco agora, aproveitar e pela primeira vez, blogar em terras lusas (uma estreia.. se bem que não esteja propriamente inspirada, aproveitei a oportunidade de ter por aqui o pc tão gentilmente disponibilizado pelo meu cunhado Paulo...)... O Pedro e o Francisco deliciam-se com cassetes de vídeo antigas (sim cassetes.. ainda as há por aqui, espólio precioso do meu primeiro bebé..) e assistem às aventuras de Kida, a rapariga da Atlantida...

Hoje dia 15 de Dezembro de 2009 a minha mãe completa 79 anos de idade. Mais logo, todos juntos (todos não porque o Luís ainda está em Sampa), vamos soprar as velas e comer o bolo de merengue da Bambu, suprema tentação e obrigação, sendo que as celebrações se intercalam sempre ou com este, ou com o "melhor bolo de chocolate do mundo", de acordo com a preferência do aniversariante...

Horas de voltar às tarefas...

Beijo,

Alex-em-Terras-Lusas

Natal

O Natal vem aí... Aqui pelos trópicos os Papais Noeis já transpiram de novo nos seus quentes fatos preparados para o Polo Norte, as luzinhas de cores diversas acendem-se nos condomínios e, nas ruas de S. Paulo, alguns arranjos e apresentações espectaculares fazem-nos dar voltas mais longas nas filas de transito intermináveis, só para os contemplar... A Paulista, a avenida mais vestida nesta época em Sampa, já se transfigurou, faltando apenas a fabulosa decoração do Shopping Iguatemi (completamente obrigatória) e a a enorme árvore de Natal do Parque Ibirapuera dar sinal de vida, para que se inicie o cortejo em torno da mesma - árvore que é guardada dia e noite por um homem que aí por baixo vive e dorme, evitando desta forma qualquer transtorno ao enfeite mais querido dos habitantes da cidade.. Não esquecer que este concorre em tamanho e alegria com o colocado por cima da Lagoa Rodrigo Freitas, no Rio de Janeiro, rivalidade que torna a de entre Lisboa e Porto mera cortesia...

Quando Dezembro aqui chega, lentamente começamo-nos a despir, desnudando braços e pernas para fazer face ao calor que se faz sentir... As crianças impacientam-se nas escolas, pois o ano, literalmente, está a chegar ao fim! Os testes sucedem-se e a capacidade para as lições de casa intermináveis e consecutivas, esgota-se! A deles e a minha! Dezembro significa a volta a Portugal, vivida sempre com a ansiedade de voltar a rever quem gostamos e de chegar a uma casa que por nós espera, meses e meses, fechada, pronta a receber-nos de forma tranquila... Queremos (egoísmo de quem parte), que nada mude, que as pessoas nos sintam com a mesma intensidade, que o nosso lugar seja sempre e para sempre nosso.. Que as pessoas que nós amamos não desapareçam nem envelheçam, achamos que o nosso ponto de partida é a Terra do Nunca e nós, Peter Pan...

Kisses,

Alex

Sayonara..

Sayonara Teresita, Andreia, Yulitza.. E agora Sandra, a minha amiga do Paraná, neta de portugueses e italianos, casada com um argentino nascido no Peru, criado no Brasil.. A caminho do Pais do Sol Nascente onde o Diego vai assumir a presidência do grupo para quem trabalha.. Muitas horas de viagem, com paragem obrigatória em NY (suprema chatice) e um bilhete de avião que consome ou muitas milhas ou muitos dólares... Não vai ser fácil, mas escrevi no meu coração a vontade de lá chegar.. Tóquio, se prepara!

Como é de praxe, as festas iniciaram-se.. Jantares, cafés da manha muito femininos, presentes comprados com a intenção de representarem o afecto impossível de exprimir, a mistura dos doces e salgados que se comem em meio a saudades que já se sentem e a satisfação das experiências futuras que vão ser saboreadas..

Vou ter muitas saudades da Sandra. E do Diego. Gosto particularmente deste individuo, que tira imensa satisfação da suas cavalgadas, de um bom jantar regado a vinho (seja qual for a sua proveniência desde que com casta), das suas observações certeiras porem educadas, do prazer de se rodear da família (único varão no meio das suas quatro mulheres) e dos amigos.. Do espírito de partilha sem soberba ou ostentação.. E da Sandra! Libriana como eu, identificamo-nos no sim a quem nos pede, no coração ao pé da boca, na parvoíce da reacção imediata e emocional.. Na vontade de fazer prevalecer a nossa vontade para de imediato fazer a de quem nos rodeia.. Como ela diz, não há nada a fazer, é mesmo assim!!

Millenium

Depois de um largo período, voltei a abrir livros.. Desta vez, influenciada pelos media e pela propaganda de uma das minhas livrarias preferidas aqui em S. Paulo, a Cultura (adoro a da Vila, no ultra-mega-chique Shopping Cidade Jardim, mas está um pouco mais longe e fica no piso anterior ao Melhor Bolo de Chocolate do Mundo e da sorveteria Mil Frutas.. Uma visita aí implica sempre o consumo desnecessário de calorias..), comprei o primeiro volume do Millenium.. Comecei a lê-lo de forma algo descrente, tendo ficado, após as primeiras páginas, totalmente agarrada a um enredo em torno de uma heroína improvável: Lisbeth Salander! Uma hacker que é mal compreendida e perseguida, que, graças a uma inteligencia fora do comum e a uma memoria fotográfica, aos amigos que não cultiva e a um trama tecido por Larsson (um homem diferente, pela escrita pode-se notar a admiração e consideração pelo universo feminino..), consegue atingir o que me pareceu, absolutamente, justiça romântica.. Os maus castigados, os bons (ainda que ligeiramente diferentes do costume), recompensados! Sexo, politica, intriga, crime, horror.. Nada falta!

Agraciada com os outros dois volumes pelo meu aniversário, terminei enfim a saga.. Descontente! Era capaz de jurar que a Salander não teria ficado por aí, não fora a morte precoce e surpreendente do autor! Adepta que sou da Teoria da Conspiração, acredito que ele foi silenciado... Será?

Beijos,

AlexManuela

Mordida..

...completamente! Braços, pernas, bumbum e até rosto! Malditos pernilongos que não me deixam dormir! Uma praga imensa parece ter tomado conta de Sampa! Em três anos de exilada jamais havia vivido tal coisa!

Enquanto bato teclas aqui na sala, oiço o Luís lá dentro, desesperado, porque tem que se levantar de madrugada para apanhar um avião, às voltas com a raquete "mágica" (comprada num dia de deambulação preguiçosa pela 25 de Março...) a "fritar" mosquitos do tamanho de gorilas, sedentos de sangue luso! Bem sei que os vampiros estão na moda, mas francamente, não há crepúsculo ou amanhecer que aguente! Queeeeeroooo dormir! Quem me tira as minhas horas de sono, arranca-me a boa disposição! Cuidado mortais, vou na terceira noite de olhos abertos, rodeados de olheiras, que diziam ser muito românticas nos loucos anos vinte dos século passado! Pois sim, talvez, mas mil vezes umas faces frescas, de maças camoesas saudáveis, aqui no seculo XXI...

Segundo os noticiários nacionais os repelentes, insecticidas, lâmpadas nocturnas repletas de veneno, cremes para depois de picadas e medicamentos preventivos esgotam-se nas lojas da especialidade.. Maná dos céus para os comerciantes, que como sempre, em tempo de guerra enriquecem sem vergonha! Eu por mim já comprei!

Fernando de Noronha

Acabei de colocar um bolo de mel no forno! Desta vez, com muito esforço e concentração, segui direitinho, à risca, as instruções e não inventei nem um pouco! A quantidade de açúcar requerida, não repensei nenhum ingrediente, colocando-os na Bimby pela ordem que o Mestre Vítor Sobral recomenda.. Teve que ser! Com o Francisco à "perna", exigindo um dos seus petiscos favoritos, corria o risco tremendo de uma birra caso o resultado final ficasse longe das expectativas do meu petiz... Até que o bolo coza, à temperatura de 180 graus, sobram-me 40 minutos bem contados, para narrar a ultima viagem de férias terminada ontem, cercas das 23 horas locais.

Fartos das nuvens cinzentas e do tempo indeciso que rodeia Sampa, resolvemos partir para Fernando de Noronha, local mítico e que preenche a fantasia tanto de brasucas, como de portugas e outras nacionalidades.. Com paragem obrigatória em Natal, onde os nossos compatriotas chegaram precisamente no dia de aniversário do Menino Jesus...

Na companhia muito agradável dos Contreiras (Ana, Joana e João), enfiamo-nos no avião em Guarulhos, para uma viagem sem estória; aterrisados, de imediato, fomos envolvidos pelo vento quente da terra tão chegada ao Equador. O hotel? Uma agradável surpresa, tanto mais que nos colocaram numa fantástica suite voltada para o mar, com ante-sala, closet, duas casas de banho, terraço e uma piscina com espreguiçadeiras... Nada mau!

Na terceira manhã descemos as dunas num buggy tripulado por um nativo calado que somente abria a boca para esparsas explicações e repleto de etiqueta! Interessante! Entre banhocas nas lagoas, no mar, skibunda e tiroleza, se passou o dia. Terça estavamos portanto mais do que prontos para a aventura final: Fernando de Noronha!!!!

A travessia fez-se em cerca de uma hora, a aproximação do avião a terra permitiu de imediato abarcar o arquipélago de uma assentada, uma vez que este é pequeno e apenas a ilha principal, a maior, é habitada. O dia estava abafado, quente, o sol inclemente e assim se manteve durante os três dias que lá permanecemos.

Adorei o local! Tudo me fazia lembrar Cabo Verde, desde o mar, o cuzcuz, o cheiro, as praias, a paisagem e as ruínas dos fortes com os seus canhões abandonados.. Fui, claro, gozada completamente pelos meus companheiros de viagem, com o Luís à cabeça, nos comentários.. As águas límpidas guardavam tartarugas que nadavam quase a tocarem nos nossos pés, os peixinhos de todas as cores serviram de inspiração ao filme Nemo, havendo imensas Doris que não estavam nem aí para a nossa presença.. Tanto os turistas como os locais respeitam as regras impostas pelo IBAMA, (sem remédio, as multas são altíssimas), organismo estatal responsavel pela natureza, que em Fernando, é senhor absoluto!

No ultimo dia, ainda antes do retorno a Natal onde dormimos, fizemos uma passeio cujo objectivo é o de colocar a pessoa a "voar" dentro de água. A reboque de um barco a motor e com uma semi-prancha transparente (cujo formato permite um mergulho imediato), de snorkles na boca e mascaras de mergulho, entre apneias, passamos duas horas incríveis a ver os corais, barcos afundados, um tractor caído ao mar - que serve de refugio a polvos e outras criaturas marinhas de grandes bigodes, tartarugas planadoras e peixes, que pediam de joelhos uma travessa fumegante com batatinhas assadas.. Os miúdos adoraram, tanto a Joana, como o Pedro e o Francisco não se recusaram à aventura subaquática, portando-se como autênticos mergulhadores tarimbados!

(Nesta altura já interrompi a narrativa algumas vezes, o bolo ficou pronto e os tpc´s do Pedro exigiram a minha presença...Depois de partido o bolo e acompanhado de leite frio, as crias deitaram-se por fim.. Está um calor típico de trópicos, abafa-se em casa e deseja-se uma leve brisa marítima.. Pois, mas aqui no planalto, não há!)

Mas nem tudo foram rosas, houve cardos também! A pousada onde nos instalaram após a aprazível estadia no hotel de 5 estrelas em Natal, era simplesmente DE-PLO-RA-VEL! Terceiro mundo, como se diz por aqui, situada no Bairro do Trinta e a evitar a todo o custo! Feia, pobre e sem condições, deveria ser proibida! E estava classificada!!! E à saída do território, em letras bem graúdas, os portugueses, (de novo), deixaram bem explicito o que pensam sobre o turismo e a administração local que permite tais desvarios!

Aviso: Em Fernando de Noronha não existe crime propriamente dito, qualquer um se pode passear à noite sem problemas, o ladrão ali tem "carteirinha", chama-se habitante e pratica os preços que quer.

Abraço,

AlexManuela

os quarenta e cinco anos...

chegaram. Já chegaram há quase um mês, mas, como qualquer outro acontecimento importante, levaram algum tempo a serem digeridos...

Quando eu era criança, 45 anos era um tempo infindo e um espaço infinito se abria na minha frente ante tal perspectiva... Foi no entanto sem muita surpresa que recebi as minhas 3X15 primaveras.. E aqui, neste lado do Globo, eu, que sempre festejei ou não, o meu nascimento durante a queda das folhas, faço jus ao comentário.. Ainda que a Primavera em Sampa, não obstante o calendário o afirmar, custe a chegar... Os dias têm estado tristes e só com muita dificuldade o sol consegue espreitar por detrás do vidro cinzento que rodeia uma das maiores cidades do planeta... Hoje é excepção, o dia amanheceu lindo. À semelhança de qualquer outro, levantei-me cedo para preparar o Pedro e o Francisco e os levar à escola. Sentados à mesa na sala, vestidos com o uniforme da escola (santo uniforme, graças a Deus!) em tons de azul escuro e branco, com o logotipo do colégio estampado, cabelos desalinhados, olhos sonolentos, comiam os cereais... Levantaram-se bem, apesar do horário ter mudado e da teimosia caracteristica dos infantes que recusam a cama à noite, embalados nas suas estórias, nos gibis do Francisco (que se tornou um viciado na Mónica e turminha), nas batalhas dos Bakugans do Pedro, nos confrontos dos googles segunda geração e ...e...., tudo, tudo, depois das lições de casa. Muitas batalhas e confrontos depois, o Peter apresenta boas notas, está perfeitamente integrado, o Francis, por sua vez, é um "natural", ou seja, nada de esforço em nada, lê e escreve em inglês e português fantasticamente bem, é um dos melhores a matemática, nem vejo os tpc´s dele...

Aos 45 anos defraudei as expectativas da minha mãe e do meu pai que sempre apostaram na minha formação e carreira profissional. Pedi "licença por tempo indeterminado" e dedico-me à família.. Estes últimos meses que se têm constituído em reflexão, levaram-me à conclusão que a culpa profunda que sentia em relação à situação se diluí face ao prazer imenso de perceber que tenho, da melhor forma que sei, apostado nos dois seres humanos que se encontram à minha guarda. Se houverem mais Pedros e Franciscos, o mundo será melhor, sem duvida.

Um abraço,
Alex-Manuela-em-Terras-de-Vera-Cruz

PS - O Pedro diz que eu sou linda e que pareço uma teeneger! Que mais quero??? :))

Agosto de 2009, ano da terrivel Gripe A

Estamos de volta a Sampa depois de mês e meio de férias em terras europeias que brilham nesta altura debaixo de um sol de verão fantástico, onde as praias continuam a manter o tom de azul intenso e o silencio do costume, apenas interrompido por um fedelho mais mal educado e pelo pregão das "Bolas de Berlim com e sem creme".. Onde somos apaparicados pelos amigos antigos e a família se derrete com as nossas exclamações mais triviais, tal é a saudade...Onde a mana e o cunhado tomam conta dos meninos para podermos ir aos concertos (Eagles, Seal.. Está a precisar de fazer uma dieta!!), onde só temos ajuda domestica quando a Paulinha arranja um tempinho e há muita roupa para lavar e passar, comida para fazer, casa para limpar..Onde a gasolina está caríssima, não fazemos as unhas, não vamos ao ginásio e a sogra mora a 15 minutos (de carro) da nossa porta! (Bom, não há bela sem senão!)

Mais uma vez obrigada a todos pela atenção! Segundo o Pedro e o Francisco, "foram as melhores férias de sempre!" (Francamente! Isto tudo depois se terem andado a passear pelos parques temáticos mais procurados do mundo, caminhado pelas ruínas majestosas do Machu Pichu, segurado nas mãos os crocodilos da Amazónia, comido uma parillada argentina em plena Buenos Aires e etc...). Mas sem dúvida que eles têm imensa razão! Nada que se compare ao prazer do arroz de pato dos meninos Gis, da raia frita da Zezinha, dos caracóis no "Monte dos Vendavais" dos Contreiras, à tarde de sol passada na piscina da Dinora, ao churrasco preparado pela Nélia e pelo Nuno em Tróia, aos petiscos do restaurante do Miguel em Oeiras ("lugar de gente feliz..") na companhia da Cláudia (grande, grande amor do meu marido), Bruno e Maionese (marido do grande, grande amor do meu marido)...Das idas aos Menezes com toques e buzinadelas nas traseiras, do copinho de Moscatel em casa dos "Duques de Palmela", do óptimo café da Paula (sem Clooney mas servido pelo Rui)... Da reunião organizada pela minha comadre Lena com os cromos da vela.. Do lauto repasto à portuguesa naquele boteco das meninas modernas na companhia da Catarina-Colorida e Belarmina-a-Serena, no matter what... E o "Q.B.", como descreve-lo? Sem palavras, queridas Beatriz e Teresa.. e Palmas, adorei te-los na minha cozinha! Margarida, beijos, beijos....

Um ano se passou desde o ultimo post.. Preguiça à mistura com desinteresse e actividades diversas fizeram-me esquecer este meu "bebé".. Falta de inspiração também, embora no intervalo se tenham realizado viagens interessantes, "saltos" até à Terrinha e vivido desde momentos perfeitamente zen, até maremotos violentos que me refizeram o mapa interior...

Será que é desta que satisfaço os "fãs" e volto? Rita, Rui, estejam atentos (tenho dois!)


Por hoje é tudo,
kisses all over,

Alex-em-Vera-Cruz